terça-feira, março 28, 2006

Assassinatos em família

Fazia frio naquela noite. As lágrimas escorriam pelos meus olhos. Eu sabia que não tinha como ficar. Não sentido por ela toda essa paixão. Eu tinha de parti. Suspirei fundo e bati a porta deixando tudo para trás. O vento cortava meu corpo. Porém a dor que eu sentia pela partida superava qualquer outra dor.
Acendi meu cigarro e fiquei do outro lado da rua. Fumei outro. Mais outro. Acabei toda a carteira parado ali. Sonhava que ela fosse sair correndo e me impedir de partir. Só mais um sonho. Já passava das duas da matina quando comecei a caminhar em direção ao horizonte. Caminhei por horas a fio até achar um táxi. “Para o aeroporto”.
Caminhei até o primeiro guichê de passagens. “O próximo vôo para qualquer lugar. Por favor”. Não tinha nem idéia de pra onde eu iria. Não tinha trazido nem uma roupa. Sem destino. Sem razão. Rezei pela primeira vez em anos. Rezei para que o avião caísse e terminasse minha dor. Ele não caiu. Maldito. Ele não caiu.
Anos passaram até que resolvi voltar. Peguei o avião de volta. Rezei novamente. Rezei para que o avião caísse como da última vez. Ele não caiu. Eu o amaldiçoei novamente. Peguei um táxi. Refiz meu caminho do passado. Acendi um cigarro do outro lado da rua. Mais um. Mais outro. Uma carteira. O vento não estava tão gelado como da última vez que parei ali.
A porta se abriu e ela saiu de lá. Não me reconheceu. A barba e o cabelo branco disfarçam minha identidade. Ela continua linda. Vejo alguém saindo de trás da porta. Uma criança. “Será que ela casou? Teve filhos?”. Fico pensando sem parar. Acendo mais um cigarro. Estou fumando compulsivamente.
A garagem se abre e sai um carro. Meu antigo carro. Tem um cara dirigindo. “Ela casou”. “Me esqueceu rápido”. Minha mente fervilha de pensamentos. Pelo tamanho da criança deve ter nascido pouco tempo depois da minha partida. Uma lágrima rola no meu rosto. O vento me corta. Porém a dor que sinto na alma é muito maior que qualquer outra dor.
Eles partem e eu vou até a porta. A fechadura é a mesma. Eu ainda tenho a chave guardada. Abro a porta e entro. Sento na minha antiga poltrona e espero. Ele foi o primeiro a chegar em casa. Eu o espero calmamente atrás da porta do quarto. Ele sem desconfiar adentra o quarto e começa a tirar sua camisa. Eu enfio uma chave de fenda no seu pescoço. Já usei muito aquela chave pra apertar parafusos. Ele agonizou um pouco e caiu morto.
Ela chega. Sinto seu perfume. Me trás muitas lembranças. Desço calmamente a escada e a espero na cozinha. Ela sempre vai para cozinha quando chega em casa. Ela se assusta ao me ver. Creio que o ainda mais por me ver banhado em sangue. Apesar do susto ela não grita. Ela sempre foi assim. Eu pego a maior faca e caminho até ela. Ela não tira os olhos de mim. Enfio a faca em sua barriga e puxo até sua garganta. Ela não tirou os olhos de mim. Parecia me querer contar algo.
Depois de matá-la vou até a sala e volto a sentar na poltrona. Espero o garoto com seu taco de beisebol na mão. Ele entra e me ver sentado lá com o taco na mão. Ele já fechou a porta e é tarde de mais pra tentar fugir. Caminho até ele e o acerto uma vez. Outra vez. Ele está caído no chão e eu ainda o acerto. Acerto sua cabeça até ela virar um amontoado de ossos quebrados.
Vou até o banheiro e me lavo. Tenho muito sangue no corpo, mas minha alma está lavada. Escuto as sirenes da policia. Então saiu do banho. Vou até o guarda roupa e pego uma roupa do maldito que está estirado a poucos passos de mim, dentro de uma enorme poça de sangue. Cabe perfeitamente. Desço as escadas. Abro a porta e espero a policia.
Eles me algemam e me botam no camburão. Eu estou de alma lavada. Devia ter feito isso há anos. Então o inspetor me fala. “Como você pode matar seu próprio filho?”. Quando eu parti, ela estava grávida. “Eu não sabia”. Mas eu não iria preso. Os policiais não me revistaram. Tiro a seringa do meu bolso e enfio na minha veia. Empurro e sinto a bolha de ar na minha veia. “Eles não me levaram preso”. Uma lágrima rola do meu rosto. Estamos a caminho do IML.


Thyago C Correia

4 comentários:

Anônimo disse...

quando digo que thiago é o meu mestre literario naum minto...

perfeito... perfeito... perfeito

Anônimo disse...

Sangue tb se usa para lavar coisas!!!

gostei!

ta na hora desse fumante diminuir no cigarro!!!

Anônimo disse...

Tão sintético quanto Guimarãs Rosa e tão negro e sombrio quanto Poe ou Sartre.
Lindo(pois o horrendo também tem sua beleza) conto.Esse cabra da peste tem futuro como contista.
Valeu Thyago e boa sorte!

Anônimo disse...

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