Dona Eduarda era uma senhora de quase setenta anos, aposentada, mas toda segunda religiosamente ela ia até o apartamento do Renato cumprir com suas obrigações e deixar tudo limpo e organizado, ela aceitará continuar trabalhando para Renato depois de sua aposentadoria por dois motivos.
O primeiro era que sua aposentadoria era pequena e sempre é bom um rendimento extra, segundo ela pessoalmente ajudou no nascimento do prematuro Renato, trabalhou na casa de sua família até o dia em que os pais de Renato faleceram e depois na sua casa e assim não conseguiu negar o pedido de apenas uma vez por semana dar um jeito em seu apartamento.
Naquela segunda-feira Dona Eduarda acordou cedo como sempre e após cumprir sua rigorosa rotina de aposentada, tomando seu café e conversando com suas plantas em quanto às aguava, vestiu-se com seu vestido verde de trabalho e partiu para casa de Renato, tomou sua condução como sempre e agora na subindo as escadas, procura as chaves da porta em sua bolsa.
Renato nasceu prematuro, com sete meses sua mãe pariu um menino magro e cabeludo, que ganhou do pai o nome de Renato, sua família era abastada e nada lhe faltou na vida, sempre teve tudo que queria, na hora que queria, era um garoto feliz.
Na adolescência ganhou um ar de rebelde. Ficou famoso nas rodas da alta sociedade, com sua arrogância e alto intelecto e com apenas dezesseis anos entrou na universidade de filosofia, um verdadeiro motivo de indignação para seu pai, que desejava ver seu filho, doutor advogado, mas com as bênçãos de sua mãe, ele feliz cursaria o curso que almejou.
Na universidade foi um aluno exemplar, surpreendendo sempre seus professores com suas intervenções e logo ganhou notoriedade, porém quando completou seus dezenove anos seu pai foi acometido de um doença grave e para acalentar seu pai, largou a faculdade de filosofia e começou a fazer Direito, como sempre fora sonho de eu velho.
A Apenas uma semana de sua formatura seu pai não agüentou e se entregou a enfermidade, nunca vendo seu filho formado, isso fez com que Renato ficasse atrasado, abrindo mão de participar de qualquer festividade que marcaria sua formatura.
Sua mãe, de solidão, faleceu apenas um mês depois de seu pai e Renato sufocado de tristeza resolveu vender todas as propriedades da família, comprou um apartamentinho no centro e foi morar lá, sem muito luxo, mas longe de ser um lugar pobre e feio.
Quando Dona Eduarda abriu a porta foi surpreendida pela imagem de Renato caído entre uma poça de sangue, ela deu um súbito grito de horror da porta mesmo, ensaiou um desmaio, mas foi forte, segurou-se na porta até que foi aparada pelas pessoas que já começavam a se juntar para saber o motivo do grito.
Todo o tormento de Renato começou exatos seis meses depois da morte de sua mãe, quando ele sentou-se a mesa para tomar seu café da manhã foi atacado pela sua mão direita com uma ferocidade colossal, “graças a minha mão esquerda sobrevivi”, relatou ao juiz Alfredo, quando pediu autorização para extirpar sua mão direita, que tentava assassiná-lo a todo custo.
Foram inúmeras tentativas frustradas de assassinato, “Minha mão direita trama minha morte a todo instante”, declarou Renato em outro ponto do processo ao juiz Alfredo, que incrédulo olhava com certo medo para Renato, “Temo que não viva muito se o senhor não me permitir arrancar o mal de meu corpo”, afirmou Renato no último instante.
Alfredo era um homem sossegado, formou-se em direito por vontade do pai, mas acabou por criar gosto pela coisa e resolveu que seria Juiz, “Ter o poder de decidir sobre a vida das pessoas me fascina”, repetia sempre Alfredo, agora analisando os fatos, olhando para Renato, ele pensa que é hora de se aposentar.
A decisão de Alfredo deixou Renato desgostoso, a mão não poderia ser extirpada sob pena de prisão, Renato brandiu para o juiz, “O senhor vai ser responsável pela minha morte”, deixando o juiz com certo rancor pela vida, ao terminar a audiência Alfredo escreveu pessoalmente seu pedido de aposentadoria, sorriu para si mesmo e foi entregar pessoalmente.
Dona Eduarda se desvencilhou dos braços que a seguravam e correu até Renato, agora olhando o jovem morto caído em uma imensa poça de sangue ela só conseguia sentir remorso por não ter cuidado melhor do garoto, pegou-o no colo e beijou-lhe a fronte mais uma vez, voltou-se para a platéia que assistia atônita e num ultimo suspiro sorrio mostrando os dentes e cai morta, fruto de um ataque fulminante do coração.
A ambulância não demorou muito, a policia por outro lado, não foi tão eficiente e chegou apenas meia hora depois, procuraram na casa sinal de arrombamento mas não encontraram nem um sinal de roubo, acharam apenas um diário escrito por Renato, a letra era meio tremida, como se escrita com a sua mão menos hábil.
Na última página escrita por Renato os policiais puderam ler.
“Sinto que será hoje, minha mão esquerda vem lutando firmemente, mas já não é a mesma de quando começou, por outro lado a minha mão direita parece mais forte e confiante, ela sente a deterioração de sua oposta, acho que hoje vou morrer assassinado pela minha própria mão direita.”
No dia seguinte a historia estranha de Renato estava em todos os jornais assim como sua ultima declaração em seu diário, varias tentativas de encontrar o Juiz Alfredo foram feitas, mas ele não foi achado, havia se aposentado dois dias antes e não queria ser perturbado, a ler o jornal pela matina lembrou-se do caso e sentindo uma enorme culpa, chorou.
A noite Alfredo sentiu algo estranho acontecendo, acordou assustado, molhado de suor, sozinho na sua enorme cama, ele viu sua mão direita ganhar vida e tentar pela primeira vez seu assassínio, mas graças a velocidade de sua mão esquerda, saiu ileso da primeira tentativa de morte.
Thyago C Correia
sábado, dezembro 12, 2009
A mão direita
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Thyago C. Correia
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