segunda-feira, janeiro 02, 2006

Cinzas férteis

Cercados, a espera do póstumo, gritavamos em coro:

Levem-nos o corpo, pois a mente já não finda
frente ao que foi dito e pensado,
a idéia fez raiz, e recebe luz ainda.


Uma imensidão de soldados cabeça-de-papel, de vidro, ou qualquer coisa dessas que se pode reciclar, mas que, para tal, é indispensável que haja uma voz de consciência, gritando "façamos".
Tupã foi meu cúmplice: ali, no quartel, não se enxergava uma réstia de consciência, eles eram como arcos e flechas, interagindo para o disparo, e sem saber o porque de tudo isso. E nos acertaram, sim, por um longo período, desde a chegada até o contexto de horror do qual agora nossa tribo luta por emergir.
Por todas aquelas noites eu orei a todas as divindades pelas almas perdidas de meus filhos, que, de um modo ou de outro, foram quem semeou em mim o ideário da liberdade, e era movido por tanto que me pronunciava:

"Guaicurus, caetés, goitacazes,
Tupinambás, aimorés, todos no chão!

Não foi nossa a pólvora
Que disparou ao início da guerra
Mas vejo claro nos olhos de meus filhos
Que deve ser nossa a última flecha
A atravessar a carne de um homem.

Guaicurus, caetés, goitacazes,
Tupinambás, aimorés, todos que me seguem!

Não foi nosso deus que pronunciou a guerra
Não foi nossa a faca a cortar o escalpo do primeiro
E sempre que o suor que banha nossa terra
For assassinado de forma vil, ganidos seram ouvidos
Não importa com o que tenhamos de pagar

Guaicurus, caetés, goitacazes,
Tupinambás, aimorés, todos no chão!

Não foi nosso o céu que escureceu
Mas nossa a terra que se avermelhou
Não foi nosso o desejo de matança
Mas nossa as lágrimas cheias de dor
foram nossos os gritos cheios de horror

Guaicurus, caetés, goitacazes,
Tupinambás, aimorés, todos que me seguem!

Hoje é o nosso dia de matança
Hoje é nosso dia de vingança
Hoje é o dia que nossos filhos ressurgiram
Nas batalhas colossais que travaremos
Pela nossa terra, pelo nosso pão

Guaicurus, caetés, goitacazes,
Tupinambás, aimorés, todos no chão!

Saiamos todos em busca do inimigo
Tupã será nosso maior amigo
Os nossos deuses nos guiarão
A vitória chegara em breve
e breve será a dor do inimigo

Guaicurus, caetés, goitacazes,
Tupinambás, aimorés, todos à guerra!"


Pélvis
Thyago C Correia

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa prova!

bjos
Li