domingo, novembro 30, 2008

Reprovado

Um dos primeiros contos que escrevi, procurei por ele aqui e não encontrei, resolvi colocá-lo, tenho uma enorme simpatia por esse conto.


Trim-trim-trim. Acordo ao som do despertador. Meu mau humor essa manhã era colossal. Arremessei o despertador em algum lugar. Não sei onde. Fiquei um tempo deitado olhando o teto e maldizendo a vida. A contra gosto me levantei e fui até o banheiro. Fiz minha higiene pessoal. Fui à cozinha. Abri a geladeira e como sempre só água. Bebi um pouco e peguei meu rumo.
A primeira pessoa que encontro, seu Mario, o porteiro me sorrir e fala.
- Bom dia.
A felicidade sem motivos de seu Mario me irritava. Ele morava numa favela, tem um filho preso e um assassinado pela policia, era assaltante, sua mulher o largou há dois dias para morar com seu irmão. Respondi.
- Que há de bom seu Marcos. O chamei pelo nome do irmão.
Ele percebeu meu mau humor. Fechou-se e voltou a sentar-se no seu banco solitário. Eu era um vadio metido a intelectual. Passava meus dias numa cafeteiria livraria lendo e conversando com meus poucos amigos e meus alunos. Não falo que sou professor, nunca dou aula. Era pra eu dar aula duas vezes por semana na universidade. Meus alunos vêm na cafeteiria falam comigo e fazem seus trabalhos. Uma porcaria a maior parte deles. Porém só reprovo os que realmente são uma porcaria completa. Sempre aprovo os que não fazem os trabalhos, nunca os alunos descobriram isso. Uma pena, era menos trabalho para mim.
Cheguei à cafeteiria como sempre logo que ela abriu. Li um pouco de um escritor novo. Não lembro seu nome. Poisis era o nome do livro. Poisis, ensaiando para ser eu. Um livro de poemas. Conversei com meus amigos de sempre. E com os alunos, poucos, que foram falar comigo de suas notas.
Quatro da tarde eu estava me preparando para sair. Quando um garoto entrou correndo na cafeteiria gritando meu nome. Um garçom apontou minha mesa. Ele tirou do bolso um revolver 38 e disse.
- Maldito seja, fiz todos seus trabalhos seu porco vadio e você me reprovou.
Pensei mais um frustrado que se acha inteligente. Falei para o garoto.
- Que merda você me entregou?
Ele descarregou a arma em mim e correu. Foi atropelado por um ônibus e morreu na hora. Eu fui socorrido e sobrevivi. O garoto era muito ruim de mira. Ao acordar no hospital me veio um desejo enorme de gritar e esse desejo foi crescendo dentro de mim até que gritei.
-Reprovado!

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